Pura Vida (The Ridge – 2012)
Pura Vida é um lindo documentário espanhol, lançado em 2012, que retrata não apenas o resgate do espanhol Iñaki Ochoa, no Monte Annapurna, mas também a solidariedade e o companheirismo inerentes aqueles que praticam o alpinismo/montanhismo, o sentimento envolvido por trás deste esporte e como ele modifica tanto a vida das pessoas, a sua maneira de pensar e agir e as suas relações com o próximo.
Se eu pudesse resumí-lo em uma só palavra eu diria ESTUPENDO!!
ATENÇÃO: Contém spoilers. Se desejar não ter detalhes maiores do filme, não continue lendo.
Sobre Pura Vida (The Ridge) – O Documentário
Até onde você chegaria para salvar a vida de um amigo?
Na face sul do Annapurna, a 7.400 metros, Iñaki Ochoa de Olza está morrendo. Seu companheiro de corda, o romeno Horia Colibasanu, soa o alarme. E, do outro lado do mundo, a maior tentativa de resgate na história do Himalaia está a caminho. Durante quatro dias, uma dúzia de homens, incluindo alguns dos melhores alpinistas do mundo, de dez países, não mediram esforços para tentar resgatar seu companheiro adoecido. Mesmo fora de seus picos Iñaki é um homem excepcional. Tão excepcional como a própria tentativa de resgate e todos aqueles homens que arriscaram suas vidas para salvá-lo. Excepcional porque a sua única regra era viver. Viver da única maneira possível: com uma intensidade pura e honesta.
O documentário Pura Vida, de Paul Iraburu e Migueltxo Molin, retrata esses 4 dias de mobilização para resgate do alpinista espanhol Iñaki Ochoa, que enfrentava sérios problemas de saúde, a 7400 metros de altitude, no Annapurna (montanha de 8.091 metros, no Himalaia)
Reuniram-se alpinistas de diferentes nacionalidade para realizar o perigoso resgate de Iñaki. E, para realizá-lo, todos prescindiram de qualquer análise mais fria .Todos agiram com o coração. Arriscaram suas próprias vidas para salvar a vida de outro.
A equipe de resgate foi formada, entre outros, por escaladores de elite como: Ueli Steck (Suíça), Denis Urubko (Cazaquistão), e o falecido Alexei Bolotov (Rússia). Um grupo cujo ponto em comum não era só a paixão pelas montanhas mas os princípios que definiam o modo de viver as suas vidas em profundidade.
Além de um relato de um resgate, Pura Vida é uma reflexão do exato sentido da palavra “viver”, dos valores fundamentais da natureza humana, como os valores da amizade, solidariedade, generosidade, e da motivação que leva cada uma dessas pessoas a quererem alcançar o topo de uma montanha.
“Aqui, todos os dias, os meios de comunicação nos bombardeiam com informações, com palavras. Creio que a civilização nos faz viver demasiadamente rápido. Não temos tempo para as coisas básicas. A aventura de ir as montanhas é estar num lugar em que nada te bombardeia.”
Pura Vida traz imagens dos arquivos pessoais dos seus protagonistas, sendo iniciado com um vídeo gravado pelo próprio Iñaki. Em paralelo a essas imagens, Horia Colibasanu, companheiro de corda do espanhol que permaneceu até o fim junto a seu amigo, tentando mantê-lo vivo, e demais alpinistas envolvidos em sua missão de resgate, relatam com detalhes todos os acontecimentos desses 4 dias de agonia.
‘‘Pura vida” era a expressão utilizada por Iñaki para demonstrar o que sentia quando subia uma montanha, a qual os produtores da película fizeram questão de ressaltar durante todo o filme.
“A montanha é muito interessante. Há a natureza, há lugares selvagens, mas sobretudo há conhecimento. O que há atrás dessa montanhas? O que há atrás dessa pedra? É muito interessante descobrir como superar as dificuldades, como alcançar o topo; como fazer para não desistir; como relacionar-se com outra pessoa; como seguir sendo o melhor amigo do meu amigo em uma situação muito difícil. Sinto a satisfação aqui, na minha vida normal, que não sou só uma máscara; que há uma pessoa real dentro de mim. É muito importante para mim, para minha alma, ser assim.”
Ianki morreu, e deixou saudades em seus familiares, amigos e companheiros de escalada, mas morreu fazendo o que mais gostava na vida: Escalando.
“Muitas vezes ouvimos dizer que nós que vamos as montanhas somos loucos. E ouvimos essas vozes mais vezes quando alguém morre na montanha. Mas não é verdade que nós vamos lá para morrer. Vamos lá para sentir o autêntico sabor da vida“
Para quem não está imerso no mundo do montanhismo, a produção talvez pareça um tanto quanto vagarosa, porém está cheia de lindas questões filosóficas que farão qualquer montanhista sentir um nó na garganta, não desgrudando os olhos da tela.
Pura Vida foi o documentário espanhol mais visto nos cinemas da Espanha em 2012, superando os 22.000 espectadores, apesar de não ter sido lançado em todas as capitais espanholas.
A produção foi premiada no Festival de San Sebastian com o “Prêmio Serbitzu”.
A produtora do documentário Pura Vida, Arena Communications, destinou uma parte dos lucros gerados com o documentário para o SOS Himalaya, uma fundação de solidariedade criada por Iñaki Ochoa, e agora conduzida por sua família.
Não deixem de assistir a esse lindo documentário. Vale muitíssimo a pena!!
Sobre Iñaki Ochoa
Iñaki Ochoa de Olza nasceu em Pamplona, Navarra, norte da Espanha, em 29 de maio de 1967.
Concluío sua primeira escalada a uma montanha a mais de 8.000 metros de altitude no Pico Kangchenjunga, ao 22 anos de idade.
Era um experiente e respeitado alpinista, tendo realizado mais de trinta expedições de escalada no Himalaia, e estado envolvido em mais de 200 expedições como guia, durante a sua vida.
Iñaki escalou 12 das montanhas mais altas do mundo sem a ajuda de oxigênio suplementar. Ele dizia: “se você usar oxigênio, você não é um alpinista, você é mais um astronauta ou um mergulhador”
Além de desafios desportivos, Inaki Ochoa tinha um sonho: queria doar às pessoas que vivem em países carentes, com montanhas de mais de 8.000, parte do que ele auferiu durante toda a sua vida frequentando esses lugares. Desejava levantar fundos para construir um orfanato em Kathmandu, um hospital infantil no Paquistão e uma escola em Dharamsala.
Infelizmente, ele não pode ver seu sonho ser realizado.
Iñaki morreu, próximo de completar 41 anos de idade, em 23 de maio de 2008, após sofrer graves danos cerebrais e edema pulmonar durante uma escalada no Annapurna, montanha a 8.091 metros, localizada na Cordilheira do Himalaia, no Nepal, tendo seu corpo permanecido na montanha, a 7400 metros de altitude, por desejo expresso da sua família.
Porém a morte de Iñaki não enterrou seu sonho de ajudar crianças carentes, o qual vem sendo concretizado pela sua família através da Fundação Iñaki Ochoa de Olza – SOS Himalaia. Esse é o legado de Iñaki.
Em reconhecimento a sua carreira desportiva Iñaki foi premiado com a Medalha de Ouro ao Mérito Desportivo de Navarra, sua terra natal. Todos os alpinistas que participaram ou contribuíram para o seu resgate também receberam o prêmio.