Travessia Marins – Itaguaré (Despacito)

Relato da travessia Marins – Itaguaré realizada “despacito”, em 4 dias,  com início no  Refúgio Marins,  e fim na clareira a beira da estrada que da acesso à trilha do Pico do Itaguaré (ponto de resgate). De grau difícil, a trilha possui muitos trechos de escalaminhada, exposição a altura, trepa-pedras,  bem como bifurcações em meio ao capim elefante e trechos de pura pedra, sem qualquer trilha, que podem gerar dúvidas.


Relato Travessia Marins - Itaguaré (Despacito)Local: Serra da Mantiqueira
Data:  Junho/2017
Percurso: Marins – Itaguaré
Distância:  24 Km aprox.
Tempo: 4 dias
Participantes: Keila Beckman, Suelen Nishimuta, André Lima, Bruno Rapozo e Daniel Vazques
Grau de dificuldade: Difícil


O Grupo

Conheci três dos integrantes do grupo (Suelen, André e Bruno) num evento  chamado Vivência Outdoor, ocorrido em abril/2017, onde passamos um final de semana incrível aprendendo mais sobre o mundo outdoor.

Na oportunidade comentei que iria fazer a travessia Marins-Itaguaré no feriado prolongado de junho, e os convidei para essa aventura.  Eles toparam na hora, e a Suelen ainda incluiu um senhor que já trilhava com ela, chamado Daniel,  que se juntou ao grupo.  Estava formado o grupo “despacito” (leiam  o post até o final para entender o porque 😉 )

Convidei também os amigos que costumam trilhar comigo, mas infelizmente ninguém pode ir.

O Encontro do Grupo – Refúgio Marins

No dia anterior ao da travessia Marin – Itaguaré, parti para São Paulo, de ônibus, onde me encontrei com a Suelen e o André. De lá partimos de carro para o Refúgio Marins, do Sr. Dito, que fica na base do Pico dos Marins (antigo Rancho do Milton), local perfeito para pernoite, pois é onde se inicia a travessia.

Quando chegamos ao refúgio, Bruno e Daniel já se encontravam dormindo no alojamento. Demos um breve “oi”, tomamos um banho e logo caímos no sono também.

Dia 1: Refúgio Marins – Cume Pico dos Marins

Depois de um belo café da manhã no Refúgio do Sr. Dito, pegamos nossas mochilas, tiramos a já tradicional foto de início de travessia, e partimos para o nosso primeiro dia de caminhada, as 7:10.

Logo no início adentra-se à mata fechada e seguimos subindo até sair em uma estrada. Seguimos por essa estrada,  sempre subindo, até cairmos novamente em trilha, agora mais erodida.

Ao final desta trilha chegamos ao Morro do Careca. Até aqui, trilha bem demarcada.

Poucos metro à frente encontramos com uma bifurcação. A trilha da esquerda nos levou ao único ponto de água confiável do dia.  Descemos poucos metros por esta trilha e logo encontramos com o acesso ao ponto de água: uma trilha mais fechada, à direita, que nos levou até a fonte, onde coletamos 4 litros de água, cada um, para beber e cozinha. O próximo ponto seria apenas no dia seguinte,  a uma hora do cume dos Marins.

Devidamente abastecidos, retornamos à bifurcação e prosseguimos com  à travessia, pela trilha da direita, passando pela placa do ICMBIO, com orientações aos visitantes. Nesse local há uma área de camping.

Após uma fotinho na placa, seguimos subindo o Pico dos Marins, verificando, a todo instante, a mudança da vegetação a nossa volta, conforme avançávamos. Aos poucos as árvores foram sumindo e dando lugar a uma vegetação mais baixa, terreno pedregoso, muito capim e um delicioso vento gelado, que soprava a todo instante.

Já tinha feito esta travessia outras 3 vezes, e subido apenas para o Marins outras 3 vezes, mas nunca havia pego um vento tão forte quanto nesta vez, em que ele chegava a nos empurrar. Lembrei da Patagônia nesta hora.

A partir daqui pode haver alguma dificuldade de navegação, por se tratar de caminhada que se desenvolve, quase que em sua totalidade, em meio a solo rochoso, onde ora ou outra a trilha de terra aparece.

Há alguns totens indicando o caminho e algumas marcações tingidas nas pedras, porém, se baixar neblina, o que ocorre com frequência ali, você não os enxergará e não saberá por onde seguir. Neste dia, pegamos uma neblina destas, que bloqueou totalmente nossa visão. Não fosse o GPS não teríamos dado um passo adiante.

Seguimos subindo o Pico em meio às rochas sem grandes dificuldades, até nos depararmos com o primeiro trecho mais complicado. Uma grande rampa de pedra íngreme que deve ser vencida. Alguns sobem pelo meio da rampa, mas o local mais seguro é seguir por sua borda direita (visão de quem olha de frente para ela), onde há locais para apoio. Antes havia uma corda neste local, para auxílio, porém, quando fizemos esta travessia a corda não estava mais lá.

Transposto esse segmento, seguimos subindo por entre rochas e capim elefante, até chegar a um local com muita lage de pedra onde é preciso fazer uma escalaminhada, utilizando mãos e pés para prosseguir. Aconselho a sempre seguir pelas valetas que existem nas rampas,  onde se tem mais apoio.

Após esse trecho, caminhamos mais um pouco e logo demos de cara com um paredão, que teríamos que contornar até chegar na chamada “fenda”. Decidimos fazer então uma parada para comer algo mais reforçado, antes de prosseguir, já que, até aqui, havíamos comido apenas rápidos lanche de trilha, como castanhas e chocolates.

Energias recarregadas, continuamos nossa caminhada, contornando a montanha, até chegarmos à  “fenda”, que na verdade se trata de um trecho de uns 5 metros verticais que deve ser escalado.

Apesar de ter muitos pontos de apoio, eu sempre tenho dificuldade em um determinado ponto desta escalada (ainda bem que eu tenho amigos parceiros, que me ajudam nessas horas). Trata-se do único local em que seu pé direito não tem um degrau para pisar, e você terá que confiar na aderência da sua bota à rocha. Já subi com a mochila nas costas, me desequilibrando, e já subi sem mochila. Tirar a mochila te dá mais confiança para transpor esse lance. Eu recomendo, para maior segurança.

Depois deste trecho continuamos subindo até chegar em uma parte onde tomamos o rumo da direita e pudemos finalmente avistar nosso objetivo do dia, que parecia próximo. Só parecia, pois caminhamos, ainda, por aproximadamente 2,5 Km, que correspondeu a 3h30min.

Neste trecho seguimos caminhando com o Marins sempre à nossa frente, passando pelo ponto de água contaminada  e por diversas áreas de campings, até chegar na última área de camping antes do ataque ao cume.

O cansaço já pegava a todos, principalmente o nosso amigo André que vinha tendo muita dificuldade em prosseguir, mas ainda não havíamos chegado. Precisávamos subir, ainda,  o último lance que nos levaria ao cume.

Trata-se de um trecho cheio de lajes de pedra, muito íngremes onde você tem que confiar totalmente na aderência da sua bota à rocha, pois não há muito onde se segurar. E você tem que subir no embalo, porque a gravidade age nessa hora, querendo te puxar para baixo.

Sempre tenho muito medo nesta parte e tenho notado que, apesar de já ter passado diversas vezes por lá, meu medo ainda permanece.

Não bastassem essas lajes super íngremes, ainda temos que vencer mais um trecho complicado:  uma pedra que parece ter sido jogada, por Deus, em cima de uma delas, só para dar um pouco mais de emoção à coisa. Trecho que se transpõe escalaminhando por cima da mesma, ou por uma fenda à sua borda. Para mim, ambos são difíceis, mas o da fenda me preocupa mais, pois tem terra e o pé escorrega para debaixo da rocha. Só imagino minha perna escorregando e quebrando ali.

Bom, depois dessa parte seguimos subindo a montanha pegando o rumo da esquerda até, finalmente, rumarmos para a direita para o cume dos Marins,  onde já avistávamos algumas pessoas.

Assim que chegamos, as 16:30, tratamos logo de arranjar uma boa área para acampar, armamos as barracas, tomamos aquele banho de gato e jantamos, antes do pôr do sol. Bruno e Suelen ainda jantavam quando o sol começou a cair, mas como a fome era muita e o pôr do sol não podia esperar, seguiram com seus pratos até o mirante. “Sabe trabalhar”, como diria o Bruno. 😆

Como sempre o Marins nos presenteou com seu lindo pôr do sol, motivo pelo o qual eu faço questão de acampar no seu cume, mesmo deixando a travessia mais puxada.

Antes de finalmente colocarmos nossos corpos para descansar, ainda nos reunimos todos na barraca da Suelen, conversamos sobre a caminhada até ali e gravamos o relato deste dia.

Distância: 7,7 Km
Tempo: 9h
Refúgio Marins: 1580m
Morro Careca: 1800m
Pico dos Marins: 2420m

 

 

Dia 2: Cume Pico dos Marins – Acampamento de Emergência

A noite passada foi bem gelada, e assim amanheceu. Mas isso, como sempre,  não foi empecilho para eu sair da barraca e ir assistir ao nascer do sol, que foi mais uma vez lindíssimo, com um belo mar de nuvens abaixo de nós, cobrindo parte do Vale do Paraíba. Apenas o Dani me acompanhava nesta hora, mas pouco depois o restante do grupo se juntou a nós e aos outros trekkers que ali estavam.

Após o espetáculo da natureza, voltamos às nossas barracas, tomamos café da manhã, desmontamos acampamento e, as 7:50, demos início ao nosso segundo dia de caminhada.

Descemos do cume do Pico dos Marins por um trecho diferente do qual subimos no dia anterior. Ao invés de iniciarmos a descida pela direita e fazer o contorno para a esquerda, mais abaixo, até a pedra que “parece ter sido jogada por Deus” sobre a laje (caminho que percorremos no dia anterior para subir) descemos pela esquerda, diretamente à ela. Essa é a trilha indicada no mapa TS-Brasil como “Trekking Marins – Itaguaré”, porém é muito mais perigosa. Aconselho a descer pelo outro lado (o qual subimos o Marins)  que é  mais tranquila.

Durante essa descida, preocupei-me muito com o bastão do André, que vinha preso a sua mochila, com a ponteira virada para baixo. A todo instante via o bastão se aproximar da cabeça de quem vinha logo abaixo dele e ficava alertando para tomarem cuidado com o bastão.

Ao chegarmos à pedra mencionada anteriormente, descemos a mesma e seguimos pelo mesmo caminho percorrido no dia anterior, passando a área de camping antes do cume, a água contaminada e chegando à área de camping após ela.

Neste local, deveríamos ter pego uma trilha à nossa direita, porém, por distração, acabamos passando reto da entrada da trilha, caminhando 250 metros a mais. Quando percebi o erro retornamos esses 250 metros e tomamos o rumo certo, rumo ao Marinzinho.

Chegando ali, nos abastecemos de água, num pequeno córrego que corre em meio aos bambus, ficamos um bom tempo conversando e comendo alguma coisa, e, finalmente, demos início a subida do Marinzinho, por uma grande laje de pedra, parecida com a do ataque ao cume do Marins, porém muito menos íngreme e com muitos “degraus” para apoiar os pés.

Logo vencemos esse trecho de subida e demos início a uma descida até uma área de charco, onde voltamos novamente a subir, contornando a montanha.

Em certo ponto me deparei com uma trilha à nossa frente bem batida e limpa, porém o tracklog que eu seguia no GPS indicava que deveríamos continuar subindo. E efetivamente teríamos que subir, pois me recordava ter passado por ali, nas outras vezes. No entanto, aquela trilha tão bem limpa, e tão batida me despertou a curiosidade. Seria um novo caminho aberto até o cume, e mais fácil? Resolvi arriscar pois aquela trilha aparecia no meu mapa TS-Brasil e encontraria com a do nosso tracklog mais à frente.

Seguimos um bom tempo nessa trilha, até nos depararmos com um lance de pedra íngreme e exposto por onde deveríamos passar.

Como a trilha do nosso tracklog estava próxima, bastava subir para encontrá-la, e a fim de não perder mais tempo retornando, decidimos prosseguir por ali mesmo em direção a ela.

Meu amigo Bruno passou com facilidade este trecho mas eu e os demais tivemos dificuldade.  Acabamos encontrando,  próximo Dalí,  um lugar mais seguro para subirmos. Não antes do Shit Tube da Suelen se soltar da mochila dela e cair na cabeça do André,  apaixonando o menino ( após a travessia os dois começaram a namorar, se casaram e hoje tem um filhinho lindo)

Passado esse trecho tenso, avistamos uma trilha bem próxima e caímos para ela. Provavelmente tratava-se da trilha que leva ao  Maeda, a qual seguimos subindo,  até o acampamento do Marinzinho.

Chegando ao acampamento, fizemos uma longa pausa para descansar e nos alimentar, antes de prosseguir com a caminhada.

Energias repostas, nos dirigimos ao trecho da descida do Marinzinho, onde teríamos que rapelar por uma corda fixa, lá existente.

No meio do caminho encontramos com dois rapazes que nos informaram da existência de uma pequena área de camping após a corda, no final da descida do Marinzinho.

Durante a descida da corda, dois sustos:  Suelen se desequilibra na descida da corda e acaba dando um tranco na sua coluna ao se segurar forte para não cair  (Mais tarde viríamos a saber que ela machucou uma vértebra, o que a obrigou a ficar afastada das trilhas por um tempo); André descia com seu bastão preso à mochila, com a ponteira virada para baixo, se aproximando perigosamente do Bruno que o ajudava, logo abaixo (lembrei do episódio em que a Daniela Ferrer quase me cegou com o bastão dela na Travessia da Serra Fina Invertida e pedi para que ele colocasse a ponteira virada para cima, para maior segurança)

 Após esse trecho, seguimos descendo até o final do vale, onde chegamos as 16:30 à área de camping indicada pelos rapazes que encontramos anteriormente. Devido ao tardar da hora resolvemos que acamparíamos ali mesmo. A próxima área de camping, que tínhamos conhecimento, ficava a 2 horas dali, na Pedra Redonda, o que nos levaria à caminhar a noite.

Montamos então acampamento,  tratamos dos muitos machucados do dia,  tomamos um banho de gato,  jantamos, gravamos o relato do dia e logo colocamos nossos corpos para descansar.

Por causa desta grande mer#&@ que eu fiz, de sair do tracklog que eu seguia para caminhar por trilha alternativa, precisamos reprogramar a nossa travessia, incluindo mais um dia de camping, já que não conseguiríamos seguir direto dali para o final dela, no próximo dia (que seria, à princípio, nosso último dia de caminhada). Tivemos que racionar, então, comida e água.

Nossa primeira sorte foi que alguns levaram comida a mais e, assim,  houve comida para ser dividida com aqueles que levaram comida suficiente apenas para 3 dias, como eu.

Nossa segunda sorte foi termos pego bastante água no Marinzinho, que, racionada, seria suficiente para cozinharmos e bebermos até o próximo ponto, no Itaguaré, no final do dia seguinte.

O conselho que eu dou é não seguir por esse caminho “alternativo” que fizemos, até o acampamento do Marinzinho. Vá pelo caminho tradicional, à direita, que segue sempre subindo, contornando a montanha.

Lições que aprendi com esta situação: a) Nunca sair do tracklog que se está seguindo, por achismo; b) Sempre carregar comida e água a mais do que o necessário,  para o caso de imprevistos.

 

Distância: 4,7 Km
Tempo: 8h30m
Pico Marinzinho:  2382m

 

 

Dia 3: Acampamento de Emergência – Acampamento Itaguaré

 Como no dia anterior, amanheceu bem frio, o que nos obrigou a tomar café da manhã dentro da barraca, apesar de não ser nada aconselhado fazer isso, já que qualquer descuido com o fogareiro levará a um grave acidente. Então NUNCA FAÇA ISSO!! Cozinhe sempre fora da barraca.

Após o café da manhã, desarmamos o acampamento, tiramos uma fotinho com nossos Shit Tubes na placa instalada naquele local, pela  Associação de Montanhismo e Proteção da Serra da Mantiqueira, a qual determina que se leve embora as fezes em recipientes adequados, e finalmente, as 8:35, partimos dali rumo à área de camping do Itaguaré.

A caminhada do dia se inicia com uma forte subida, entre a vegetação,   e logo nos leva a uma área aberta onde se tem uma linda vista do Marins e do Marinzinho.

A partir desse ponto a trilha segue mais tranquila, sem grandes desníveis, passando por uma área de acampamento que não tínhamos conhecimento, até dar início à subida da Pedra Redonda, onde chegamos após cerca de duas horas de caminhada e admiramos a sua forma bela forma…  retangular 😯 . Pausa para um lanche, descanso e fotos.

Não nos demoramos muito e logo continuamos a caminhada.

Mais à frente encontramos com  um grupo que fazia a travessia ao contrário, que nos parabenizou pelo uso dos Shit Tubes e fizeram questão de tirar uma foto conosco e nossos tubinhos.

Nos despedimos dos colegas de montanha e continuamos a nossa travessia, sempre pela crista e com um visual de tirar o fôlego.

Em certo momento chegamos a uma área de capim muito alto (maior que nós), onde haviam trilhas para todos os lados, porém, seguindo nosso tracklog a risca, passamos aquele trecho sem nenhuma dificuldade.

Caminhamos mais um pouco e resolvemos, por volta das 12:15 fazer uma pausa para almoço, numa das áreas de camping que encontramos. Aliás, nesse dia encontramos muitas áreas de campings pelo caminho.

Foi um almoço bem gostoso, mas bem escasso, que não saciou a minha fome, e creio que a dos meus amigos também não. Fiquei com um dó de ver o Bruno, todo grandão, comendo um pinguinho de comida. Mas era o que podíamos comer aquela hora, pois tínhamos que deixar um pouco reservado para nosso jantar.

Nessa hora passou um grupo de rapazes por nós, seguindo em direção ao Itaguaré, com sacos plásticos rasgados, que cobriam objetos fora de suas mochilas, voando ao vento. Com certeza eles vinham deixando pedaços desses sacos por todo o caminho  já que passamos por muitas áreas de bambuzinhos neste dia. Uma pena que existam pessoas tão sem noção nesse mundo.

Depois da nossa longa pausa para almoço e descanso, continuamos a travessia que, seguiu tranquila até iniciarmos o sobe e desce de vales até o Itaguaré. Esse trecho é bem cansativo não apenas pelo sobe e desce constante, mas por ter que ficar a todo momento utilizando braços e perdas para ajudar nas subidas e descidas. Uma escalaminhada de pedras e raízes sem fim, que esvaem rapidamente as últimas forças que lhe restam.

Quando estávamos bem próximos da área de camping onde deveríamos ter acampado no dia anterior (última área antes de chegar ao Itaguaré), demos de cara com fezes fresquinhas,  e um monte de papel higiênico,  bem no meio da trilha. Uma pura falta de respeito não só com o meio ambiente mas também com os outros trekkers. Certamente foi alguém daquele grupo sem noção que passou por nós, enquanto almoçávamos. Lastimável!! Assista ao nosso vídeo e veja do que estou falando.

Infelizmente não catamos aquela obra, pois ficamos com muito nojo, e segui o resto da trilha me lamentando por isso. Deveríamos ter catado, mesmo assim, afinal, nós temos essa preocupação de sempre recolher todo o lixo carregável, que  encontrarmos pelo caminho, nas nossas trilhas.

Após essa desagradável surpresa no meio da trilha, logo chegamos  a última área de camping antes do Itaguaré, onde fizemos uma pausa para decidir se prosseguiríamos até a área do Itaguaré ou se acamparíamos ali mesmo.

Como ainda eram 15:50, o trecho era curto (cerca de 1,3Km) , relativamente tranquilo e sem grandes desníveis, aconselhei prosseguirmos, e assim fizemos, chegando à área de camping do Itaguaré em 1h25min, as 17:15. No caminho,  passamos pela chamada “gruta”, onde é preciso tirar as mochilas das costas e passar por baixo de grandes pedras.

Assim que chegamos ao Itaguaré, o sol começou a se pôr. 

Assistirmos ao espetáculo da natureza e, logo em seguida, Dani e eu fomos pegar água, bem pertinho dali,  enquanto Suelen, Bruno e André ficaram amando as barracas.

Estava bem frio, motivo pelo qual resolvemos preparar nosso jantar dentro da barraca, com muita cautela. NUNCA FAÇA ISSO!!

Durante o jantar relembramos como foi lindo aquele dia e parabenizamos a todos por terem chegado até ali.

Com certeza esse foi o dia mais legal. O dia em que eu mais aproveitei, o que eu consegui curtir mais a montanha, o que eu consegui curtir mais a companhia dos meus amigos. Um dia feito tranquilamente, sem correria e sem perrengues. Amei!!

Distância: 6,5 Km
Tempo: 9h15m
Pedra Redonda: 2308m

 

 

Dia 4: Acampamento Itaguaré – Clareira Próxima à Estrada

Como nos demais dias, este dia nasceu lindo, porém foi o que teve temperaturas mais quentes.

Assim que acordamos, tomamos  o nosso café da manhã e as 8:15 iniciamos nossa subida até o cume do Itaguaré.

Trata-se de uma subida fácil, com apenas um trecho complicado, onde é necessário fazer uma “escaladinha”

Após 40 minutos de subida (cerca de 700 metros), chegamos ao ponto mais complicado e perigoso do dia: “o pulo do gato”. Uma pedra encravada no meio de uma fenda enorme, com abismo para os dois lados. Qualquer erro ali é fatal.

Eu, como sempre, não me senti segura em passar essa pedra,  então meu cume foi, novamente, ali mesmo,  a 2.325 metros de altitude,  ou seja, 12 metros de altitude abaixo do ponto mais alto do Itaguaré, que fica  a 2.337 metros

André também preferiu não se arriscar e ficou me fazendo companhia, junto a outros trekkers que também não se atreveram.

Bruno, Dani e Suelen, por outro lado, destemidos, prosseguiram com a caminhada pelos 170 metros de cumprimento restantes até o ponto mais alto do Pico Itaguaré, a 2.337 metros de altitude, onde chegaram em 10 minutos.

Enquanto esperávamos André e eu apreciávamos a bela vista, que nos proporcionava verificar boa parte da crista percorrida no dia anterior.

Quando os demais retornaram e se juntaram a nós, já estávamos sozinhos. Dani estava tão emocionado que colocou uma música no seu celular; uma música que lhe trazia boas lembranças. Nessa hora nos abraçamos e cantamos a música do Dani juntos. Foi emocionante. Tínhamos conseguido, apesar do perrengue que passamos.

Depois de uma fotinho do grupo no Itaguaré, retornamos até nossas barracas, desmontamos acampamento, recolhemos o lixo que havia por lá e iniciamos a descida, de 3,5 Km, para o final da travessia, as 10:50.

A trilha segue em direção ao ponto de água e passa por uma grande áreas de campings, antes de iniciar a descida definitiva.

Inicialmente descemos trechos de laje de pedra, com vegetação a sua volta e logo adentramos em mata fechada, seguindo em meio a ela até o final da travessia.

Restando 30 minutos para chegarmos ao final da nossa travessia, cerca de 1,3 Km, encontramos o primeiro ponto de água, dos 4 existentes após o ponto do Itaguaré.

As 13:30, após 2h40min de caminhada desde o camping do Itaguaré,  concluímos, finalmente, a nossa travessia, na clareira a beira da estrada, onde aguardamos o nosso resgate.

De volta ao Refúgio Marins, onde deixamos os carros estacionados, almoçamos, tomamos um bom banho e nos despedimos daquela linda jornada, dirigindo-se, cada um, para sua casa.

Mas isso não foi um “adeus” foi só um “até logo”, já que, desde a Marins-Itaguaré os “Despacitos” (apelido carinhoso que demos a esse grupo,  por termos feito a travessia devagar, e em 4 dias),  tem trilhado, constantemente, juntos. Bruno,  não deixou de ir em mais nenhuma travessia que organizei, até hoje; Dani e André foram em duas, e Suelen em uma (recuperava-se da contusão na corda).

Não desmerecendo as outras três vezes em que fiz a Marins-Itaguaré, tampouco os amigos que nelas me acompanharam, posso dizer, com toda certeza, que essa foi a Marins-Itaguaré que eu mais curti.

O fato de termos quebrado o segundo dia (o mais puxado) em dois dias,  apesar de não planejado, foi a melhor coisa que podia ter acontecido nesta travessia. Consegui aproveitar muito mais a montanha,  sem toda aquela correria do segundo dia, necessária para se cumprir o cronograma quando se faz a travessia em 3 dias.

 

Distância: 5,1 Km
Tempo: 4h20m  – sendo:
Pico Itaguaré: 2337m
Resgate: 1.534m

 

 


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Dicas Travessia Marins - Itaguaré (Despacito)
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