Reabertura da Serra Fina – Por esse Valores? Não, Obrigada!

A reabertura da Serra Fina, após quase dois anos do seu fechamento, e os altos valores cobrados.


Como é de conhecimento de toda a comunidade montanhista, a Serra Fina se encontrava fechada desde a ocorrência de um grande incêndio em julho de 2020, ocasionado, ao que se cogita, por uma fogueira.

A Serra Fina vinha sendo, à época, muito frequentada, principalmente por pessoas despreparadas, sem o mínimo de consciência ambiental, o que acabou levando à consequências graves, como uma grande quantidade de fezes descartadas inadequadamente na montanha, clareiras e mais clareiras sendo abertas para montagem de acampamento, inúmeras trilhas abertas por quem se desviava do caminho correto, dezenas de pessoas perdidas precisando de resgate, que, por si só, já causa um grande impacto ambiental, e, por fim, o fatídico incêndio de 2020.

Com o mote de proteger a Serra Fina, ordenando a sua visitação e manejando as suas trilhas, foi criada a Associação de Proprietários da Serra Fina (eu nem sabia que as montanhas pudessem ter “dono”) a qual sempre teve meu apoio para o que se propunha fazer.

Tanto assim é verdade que assinei o Pacto Pelas Cristas da Mantiqueira, e o divulguei aqui no blog, para que mais pessoas tivessem conhecimento do mesmo e também aderissem àquela causa, que visava dar um descanso à Serra Fina, a fim de que ela pudesse se recuperar do incêndio sofrido. Quem o assinava se comprometia a não visitar a Serra Fina nesse período de recuperação.

Continuo defendendo que a Serra Fina tenha um controle de pessoas, tenha regras,  enfim, seja ordenada, pois, sem isso, veríamos, a cada dia que se passasse, mais e mais degradação, diante do grande volume de visitantes que ela vinha recebendo.

Porém, a sua reabertura, em junho/2022, trouxe àqueles que desejam visitá-la valores a serem pagos excessivamente onerosos, relativos a ingresso e pernoite em camping, com os quais a maioria não poderá arcar, inclusive essa que vos fala, sobretudo no que diz respeito aos períodos de finais de semana, feriados e feriados prolongados, quando o valor aumenta exponencialmente.

Valores Cobrados  – Day Use e Pernoite

Em abril do corrente ano a empresa que gerencia o acesso da Serra Fina informou, em suas redes sociais, os valores que seriam cobrados quando da reabertura da mesma, relativos a “day use” – que basicamente é um ingresso que dá direito a usufruir do local sem pernoitar,  o qual seria cobrado por dia de visitação – e  relativo a pernoite em camping selvagem – ou seja, sem qualquer estrutura –  caso o visitante deseje dormir na montanha.

Conforme comunicado da empresa responsável, o valor total a ser pago para estar na Serra Fina, corresponde a soma da quantidade de “day use” com a quantidade de pernoites desejados, estando incluso no valor do roteiro um Seguro Aventura.

OBS: Ao meu ver, a inclusão desse seguro no valor do roteiro configura venda casada já que, apesar da empresa informar que o visitante poderá adquirir seu próprio seguro, em nenhum momento informa se, nesse caso, será descontado do valor do roteiro o montante relativo ao seguro que já se encontra embutido no preço cobrado (e nem há essa opção de escolha no site de venda dela).

Vejamos, agora, alguns exemplos:

  • Se você desejar fazer um bate e volta no Capim Amarelo, pagará 1 “day use”;
  • Se você desejar pernoitar 1 noite no Capim Amarelo, pagará 2 “day use” (dia que você sobe a montanha e dia que você desce a montanha) e 1 pernoite.
  • Se você desejar acampar no Capim Amarelo e na Pedra da Mina (Meia Travessia da Serra Fina) pagará 3 “day use” (dia que você sobe o Capim Amarelo, dia que você sobe a Pedra da Mina e dia que você desce a montanha) e 2 pernoites.
  • Se você desejar acampar no Capim Amarelo, na Pedra da Mina e no Pico Três dos Estados (Travessia da Serra Fina em 4 dias) pagará 4 “day use” (dia que você sobe o Capim Amarelo, dia que você sobe a Pedra da Mina, dia que você sobe o Pico dos Três Estados e dia que você desce a montanha) e 3 pernoites.

Abaixo os valores inicialmente cobrados para cada uma dessas taxas (“day use” e pernoite), por período de visitação, no corrente ano:

DAY USE/INGRESSO (R$)
Integral Moradores
Durante a semana 30,00 15,00
Finais de semana 60,00 30,00
Feriados e Feriados Prolongados 80,00 30,00
PERNOITE/ CAMPING (R$)
Integral Moradores
Durante a semana 30,00 15,00
Finais de semana 60,00 30,00
Feriados e Feriados Prolongados 80,00 30,00

Como se pode verificar o valor do “day use” corresponde exatamente ao valor cobrado para acampar.

Vejamos agora, exemplificadamente, o total a ser pago, por pessoa, para frequentar determinadas trilhas, levando-se em consideração o valor integral das taxas cobradas (não moradores):

Bate e Volta no Capim Amarelo

(1 Day Use)

  O Que Pagar? Total a Pagar
Durante a semana Day use: 30,00 30,00
Finais de semana Day use: 60,00 60,00
Feriados e Feriados Prolongados Day use: 80,00 80,00
Camping no Capim Amarelo

(2 Day Use + 1 Camping)

Durante a semana

(exemplo: trilha com início segunda)

Day use segunda: 30,00

Camping segunda: 30,00

Day use terça: 30,00

90,00
Finais de semana

(exemplo: trilha com início sábado)

Day use sábado:60,00

Camping sábado: 60,00

Day use domingo: 60,00

180,00
Feriados

(exemplo: feriado na quarta – trilha com início quarta)

Day use quarta: 80,00

Camping quarta: 80,00

Day use quinta: 30,00

190,00
Feriados Prolongados *

(exemplo: feriado na sexta – trilha com início sexta)

Day use sexta: 80,00
Camping sexta: 80,00Day use sábado:80,00
240,00
Meia Travessia Serra Fina

(3 Day Use + 2 Camping)

Durante a semana

(exemplo: trilha com início segunda)

 

Day use segunda: 30,00

Camping segunda: 30,00

Day use terça: 30,00

Camping terça: 30,00

Day use quarta: 30,00

150,00
Finais de semana

(exemplo: trilha com início sexta)

 

Day use sexta: 30,00

Camping sexta: 30,00

Day use Sábado: 60,00

Camping sábado: 60,00

Day use domingo: 60,00

240,00
Feriados

(exemplo: feriado na quarta – trilha com início quarta)

Day use quarta: 80,00

Camping quarta: 80,00

Day use quinta: 30,00

Camping quinta: 30,00

Day use sexta: 30,00

250,00
Feriados Prolongados

(exemplo: feriado na quinta – trilha com início quinta)

Day use quinta: 80,00

Camping quinta: 80,00

Day use sexta: 80,00

Camping sexta: 80,00

Day use sábado: 80,00

400,00
Travessia da Serra Fina em 4 Dias

(4 Day Use + 3 Camping)

Durante a semana

(exemplo: trilha com início segunda)

Day use segunda: 30,00

Camping segunda: 30,00

Day use terça: 30,00

Camping terça:30,00

Day use quarta: 30,00

Camping quarta: 30,00

Day use quinta: 30,00

210,00
Finais de semana

(exemplo: trilha com início sexta)

 

Day use sexta: 30,00

Camping sexta: 30,00

Day use Sábado: 60,00

Camping sábado: 60,00

Day use domingo: 60,00

Camping domingo: 60,00

Day use segunda: 30,00

330,00
Feriados

(exemplo: feriado na quarta – trilha com início quarta)

Day use quarta: 80,00

Camping quarta: 80,00

Day use quinta: 30,00

Camping quinta: 30,00

Day use sexta: 30,00

Camping sexta: 30,00

Day use sábado: 60,00

340,00
Feriados Prolongados*

(exemplo: feriado na quinta – trilha com início quinta)

Day use quinta:  80,00

Camping quinta: 80,00

Day use sexta:  80,00

Camping sexta:  80,00

Day use sábado:  80,00

Camping sábado: 80,00

Day use domingo: 80,00

560,00

Analisando-se o quadro acima, verifica-se que, quando se pensa em um bate e volta no Capim Amarelo, num dia de semana, por exemplo, o valor cobrado (R$ 30,00) não parece tão exorbitante (o Parque Nacional do Itatiaia cobra R$ 20,00 o ingresso para 1 dia), mas quando se acrescentam mais dias na montanha, quando se acrescentam os pernoites, da forma como estão sendo cobrados (finais de semana, feriados e feriados prolongados são bem mais caros), os valores abusivos saltam aos olhos. Uma travessia da Serra Fina, realizada em 4 dias, em feriado prolongado,por exemplo, custará 560,00. Sim, você não leu errado: QUINHENTOS E SESSENTA REAIS.

Agora eu te pergunto: Você acha que uma pessoa que recebe salário mínimo, o qual perfaz atualmente a quantia  aproximada de R$ 1.200,00, possui R$ 560,00 sobrando para arcar com as taxas  cobradas para fazer a Travessia da Serra Fina em 4 dias de um feriado prolongado?

A resposta é óbvia, e mais óbvio ainda é o fato de que essas pessoas, em função das elevadas quantias cobradas, estão sendo impedidas de frequentar um local cujo  interesse é público.

Sendo de interesse público, o Poder Público pode atuar para resguardar OS DIREITOS DO CIDADÃO, minorando os gastos e, consequentemente, os valores a serem repassados aos visitantes, fomentando, assim, o ecoturismo na região.

E isso é previsto na Constituição Federal, a qual permite a intervenção do Estado na propriedade privada quando houver interesse público envolvido, devido ao principio da supremacia do interesse público e a função social da propriedade.

Tanto assim é que, tomando conhecimento das elevadas quantias cobradas, a Prefeitura de Passa Quatro interveio junto a APSF (Associação de Proprietários da Serra Fina), conforme comunicado abaixo:

A Prefeitura Municipal de Passa Quatro está comprometida tanto com a preservação ambiental quanto com o desenvolvimento de uma política pública de uso turístico sustentável da Serra Fina. Tendo por objetivos a conciliação entre a promoção do meio-ambiente ecologicamente equilibrado e a exploração turística, desportiva e cultura da “travessia” (rede de trilhas). Nesse sentido, o Governo Municipal vem estabelecendo diálogos com a Associação dos Proprietários da Serra Fina (“APSF”), com o intuito de resguardar o interesse público no projeto de ordenamento por eles desenvolvido. Não obstante tais tratativas, a Prefeitura Municipal não foi consultada previamente acerca das já divulgadas políticas tarifárias e condições de acesso aos moradores locais. Motivo pelo qual irá se valer de suas prerrogativas institucionais para reestabelecer a comunicação com a APSF visando a construção de um novo conjunto de regras mais adequado aos interesses da coletividade e dos munícipes. (Fonte: Facebook Prefeitura de Passa Quatro)

O ecoturismo na Serra Fina  constitui um mercado de grande importância para os Municípios circundantes que dependem economicamente do turismo ecológico, pois o mesmo gera emprego e assegura a renda de muitos de seus cidadãos.

Inviabilizar o acesso das pessoas à Serra Fina, com a cobrança de valores exorbitantes, prejudica não apenas os visitantes economicamente menos favorecidos, mas toda a economia local, que tem o ecoturismo como um de seus alicerces.

Em nota  a empresa que gerencia o acesso da Serra Fina justificou os valores cobrados com base nos “custos significativos” que teria na operação do receptivo.

É inegável que hajam custos para gerenciamento da Serra Fina, no entanto, ao que se percebe, pela própria nota emitida pela Prefeitura de Passa Quatro,  não se procurou qualquer maneira de mitigar esses valores a patamares mais acessíveis aos visitantes, como, por exemplo, buscar incentivos junto ao Poder Público.

Como bem frisou a Prefeitura de Passa Quatro, em sua nota,  apesar da Serra Fina ser área, dita, particular, é de interesse público. Sendo assim, todo cidadão tem direito de poder frequentá-la, pagando um preço justo.

OBS: Antes de escrever esse post, informei-me sobre os valores diretamente com a empresa responsável pelo controle de acesso da Serra Fina.

Novas Regras – Descontos e Isenção

Claro que a cobrança de valores tão desproporcionais, comparados ao valores cobrados por parques e  outras unidades de conservação do Brasil,  causaria uma grande revolta na comunidade montanhista, principalmente nos moradores do entorno, e nos que trabalham como guias, como efetivamente ocorreu.

Ainda mais porque,  conforme comunicado da empresa responsável pelo acesso da Serra Fina, os moradores do entorno – considerados aqueles que residam em Passa Quatro, Itanhandu, Itamonte, Lavrinha e Queluz –  só poderiam acampar no referido local se, em “última chamada”  houvessem vagas disponível para tanto, sem possibilidade de reserva antecipada, como os demais frequentadores. Um completo absurdo que vai em desencontro com a regra praticada pela maioria dos parques brasileiros, que privilegiam os mesmos, não oneram ainda mais.

Os guias, por outro lado, também se viram prejudicados, pois não foram isentos das taxas cobradas enquanto no exercício da sua profissão.

Após ampla comoção da comunidade montanhista, guias, moradores, e da participação do Poder Público, a empresa que gerencia o acesso da Serra Fina estabeleceu descontos para pagamentos antecipados, e novas regras para moradores e guias, conforme abaixo:

NOVAS REGRAS

Visitantes em geral:  reserva com ao menos 45 dias de antecedência terão descontos de 30% para a Travessia da Serra Fina Completa e 20% de desconto para demais acessos.

Moradores:  pagam apenas R$ 10,00 pelo “day use” e R$ 10,00 pelo pernoite (camping), porém com as seguintes condições:

  • 10% de todas as Licenças de Acesso
  • 20% dos “day use” de segunda à quinta, exceto feriados
  • Liberação de vagas remanescentes de acampamento nas mesmas  condições
  • Reservas com até 7 dias de antecedência
  • Comprovação da residência durante o cadastro no site e no acesso às trilhas

Guias: serão isentos de cobrança, quando prestando serviço.

Apesar do desconto dado em reservas antecipadas, verifica-se que o mesmo não melhorou muito a situação geral dos valores totais cobrados para uma determinada trilha, quando se envolve mais de um dia na montanha, com pernoite. Passamos, por exemplo, de uma Travessia da Serra Fina em 4 dias, em feriado prolongado, custando R$ 560,00, para uma travessia  custando 392,00.

Você acha razoável pagar tudo isso apenas em INGRESSO e CAMPING (que, aliás não possui qualquer estrutura, já que se trata de camping selvagem) mesmo que você, porventura, tenha esse valor para pagar? Compare com outros lugares e veja se é justo arcar com os valores exorbitantes cobrados.

Para ter uma ideia, o Parque Nacional do Itatiaia te dá desconto a partir do segundo dia consecutivo de visitação. A  empresa que gerencia o acesso da Serra Fina, ao contrário,  onera o visitante ainda mais, cobrando o valor integral do “day use” (ingresso por dia de uso) em todos os dias que o visitante passar na serra; bem como o valor integral dos campings, em todos os pernoites que passar na montanha.

Ademais, verifica-se que os moradores do entorno ainda estão sendo “punidos” por serem moradores, vez que, apesar da diminuição do valor dos “day use” e pernoites, existem algumas condições para pagamento dessas quantias, que os colocam em posição desfavorável em comparação com os demais visitantes pagantes.

Em grande parte, os elevados valores cobrados se devem aos seguintes motivos:

  • Ausência de desconto no “day use” e no pernoite (camping) quando o visitante pretender visitar o local por mais de um dia;
  • Cobrança de “day use” e pernoite em valor mais elevado aos finais de semana, feriados e feriados prolongados;
  • Cobrança de pernoite por pessoa, não por barraca

O que eu acredito que seria uma cobrança justa? Algo nos moldes dos valores cobrados pelo Parque Nacional do Itatiaia, como:

  • Cobrança de valor fixo de ingresso (“day use”), para todos os períodos, independente se é dia de semana, final de semana, feriado ou feriado prolongado, no valor médio praticado pelos  parques do Brasil localizados em áreas montanhosas;
  • Cobrança de valor fixo de camping (pernoite), sendo o mesmo valor para todos os períodos, e por barraca, não por pessoa, possibilitando o uso de barracas que comportem até 3 pessoas
  • Desconto no ingresso e no camping a partir do segundo dia consecutivo de visitação, sendo de 90% o desconto em dias de semana e de 50% o desconto em finais de semana e feriados, a exemplo do Parque Nacional do Itatiaia.

Infelizmente apenas o clamor público e a intervenção do Poder Público de Passa Quatro (desconheço se outras cidades do entorno fizeram o mesmo) não foi suficiente para minorar os valores cobrados à patamares que caibam no bolso de todos aqueles que desejem visitar a Serra Fina.

Mais infeliz, ainda, o fato de já estarmos vendo pessoas pagando esses valores absurdos para frequentar a Serra Fina, não sei se por pura ignorância ( não fazem ideia das taxas cobradas por outras unidades de conservação ou parques nacionais) ou por total desprezo ao próximo mesmo.

Não digo os guias, claro, afinal esse é o ganha pão deles, mas aqueles que estão lá a lazer, que, ao invés de se unirem às demais pessoas, que estão boicotando a Serra Fina, a fim de tentar uma nova modificação na política de preços praticada,  preferem pagar caro para satisfazer o próprio desejo, esquecendo que muitas pessoas estão sendo impedidas de frequentá-la, devido a sua condição financeira desfavorável.

Não aja como essas pessoas.  Não frequente a Serra Fina! Você já esperou tanto, não custa nada esperar mais um pouco. Vamos forçar essa empresa, com a nossa ausência, a buscar meios de minorar esses valores, a fim de tornar as taxas cobradas mais acessíveis a todos.

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